Eu devia ter á volta de oito anos. Andava em folias com o resto dos miúdos no pátio da escola. Estávamos a jogar ás escondidas. Procurei esconder-me atrás duma porta que dava acesso a uma casa de banho decrépita que na altura se encontrava em obras. Infelizmente não fui o único a procurar refúgio na recatada cagadeira que ficava por detrás da porta meia coberta por uma bela buganvília. Pedro, o Bucha, um rapaz com problemas de peso tinha escolhido esconder-se lá tal como eu. As carnes fartas do Bucha em plena correria empurraram a porta e fizeram-me aterrar na sanita onde fiquei preso. O Bucha ao reparar que eu e a retrete éramos agora uma unidade correu por ajuda. Por esta altura, enterrado na cerâmica comecei a vislumbrar os olhinhos dos outros miúdos como penas de pavão incrustadas na ramagem da buganvília. Estavam entre o riso e a surpresa num ambiente de pré-galhofa generalizada. Veio uma freira que me passou uma mão pela cabeça e passado um bocado voltou com um brutamontes que desfez com um maço o enlace carne-loiça. Encaixei dois cortes no cu e um ódio aturdido pelo Bucha. No entanto se posso apontar o pináculo da humilhação foi passar, meio a mancar pela turba ululante com as calças ensanguentadas e restos de merda que datavam de antes das obras. Enquanto carregava o meu pequeno e fétido corpo pelo pátio compreendi, e lembro-me disso distintamente, compreendi que teria sido muito pior se tivesse caído de queixo ou enfiado lá a cabeça. Outros teriam provavelmente tirado ilações sobre o universo. Eu não, eu estava só na merda.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
À procura do tempo fodido
Eu devia ter á volta de oito anos. Andava em folias com o resto dos miúdos no pátio da escola. Estávamos a jogar ás escondidas. Procurei esconder-me atrás duma porta que dava acesso a uma casa de banho decrépita que na altura se encontrava em obras. Infelizmente não fui o único a procurar refúgio na recatada cagadeira que ficava por detrás da porta meia coberta por uma bela buganvília. Pedro, o Bucha, um rapaz com problemas de peso tinha escolhido esconder-se lá tal como eu. As carnes fartas do Bucha em plena correria empurraram a porta e fizeram-me aterrar na sanita onde fiquei preso. O Bucha ao reparar que eu e a retrete éramos agora uma unidade correu por ajuda. Por esta altura, enterrado na cerâmica comecei a vislumbrar os olhinhos dos outros miúdos como penas de pavão incrustadas na ramagem da buganvília. Estavam entre o riso e a surpresa num ambiente de pré-galhofa generalizada. Veio uma freira que me passou uma mão pela cabeça e passado um bocado voltou com um brutamontes que desfez com um maço o enlace carne-loiça. Encaixei dois cortes no cu e um ódio aturdido pelo Bucha. No entanto se posso apontar o pináculo da humilhação foi passar, meio a mancar pela turba ululante com as calças ensanguentadas e restos de merda que datavam de antes das obras. Enquanto carregava o meu pequeno e fétido corpo pelo pátio compreendi, e lembro-me disso distintamente, compreendi que teria sido muito pior se tivesse caído de queixo ou enfiado lá a cabeça. Outros teriam provavelmente tirado ilações sobre o universo. Eu não, eu estava só na merda.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
A Ilha dos Corações Partidos - A Outra Parte
Ao fim dos três dias, avista ao longe a multidão que se agita. Surgira da bruma o rosto mais belo que alguma vez vira. Ao fim de algum tempo, o rosto e o seu corpo de homem afastam-se da multidão, caminhando para ela. O seu coração fragmentado sentiu-se a tremer, e as suas pernas receberam ordem de despejo. Correu a esconder-se no mato. Deixou que os olhos não perdessem a figura de vista, bebeu-lhe o corpo, bebeu-lhe o passo, bebeu-lhe o olho, aquele único e grande, que os seus sonhos lhe tinham mostrado entre bocejos e suspiros.
Ali se deixou, tremendo e chorando por esse sonho acontecido.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
A Ilha dos corações partidos III
- Cagamos sempre aqui. Cada um tem a sua área e assim ajuda-se o lustroso solo. O zarolho acenou. Depois voltaram. Na caverna já todos tinham adormecido, mas o zarolho e o velho continuaram a conversar.
- As portas para o lado de lá fecharam-se. Não há mais ninguém. – Confessou o homem ao velho sem ponta de emoção.
- Bem, então precisas de um sítio para te instalares. Escolhe um pedaço da caverna e depois veremos para que tens jeito.
- Não pretendo ficar. Quero seguir pela selva até ao Pico dos Três Vértices e encontrar as mulheres do Milho Estoirado.
- As mulheres do alto não gostam de companhia – Retorquiu o velho.
- Nem eu. Procuro só uma delas. Sonhei com ela quando estava no outro lado. Tem uma carinha linda e olhos grandes e azuis. Além disso pula e dança. Eu chamo-lhe Cintilante Luz Que Brilha Sem Cessar Na Única Pupila do Meu Olhar.
- É um nome um bocado grande – Disse o velho, jocoso.
- É uma grande mulher – Retorquiu o zarolho.
- E se ela não sonhou contigo? – Perguntou o velho.
- Bem, nesse caso volto para junto de vocês e mais dia, menos dia quando a maré estiver cheia deito-me na rocha em vez de me sentar.
A fogueira estava a apagar-se e o ancião levou o visitante a um recanto de pedra e convidou-o a repousar. O zarolho fechou o olho e adormeceu. O velhote esgueirou-se para o seu canto da caverna e fez vibrar uma rabeca enquanto entoava uma frase vezes sem conta.
sábado, 22 de novembro de 2008
Theme song to Fantasy Island
este sonzinho fica aqui até eu decidir o que fazer ao zarolho (lol). Redonda obrigado pelas tuas palavras e quando quiseres reentrar fá-lo.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
A Ilha dos corações partidos II
Depois dos cumprimentos e abraços o zarolho afastou-se da multidão. Passeou pela orla da praia e foi-se sentar numa rocha a olhar para o mar. O sol já não se aguentava, estava a ser empurrado para o fundo. Entardecia e a multidão foi à sua vida. O homem levantou-se e deu um mergulho no mar, aproveitando para urinar em recato. Depois de jantarem os ilhéus vieram para perto do zarolho que continuava pesado como uma estátua em cima da pedra. A maré estava a subir, sentaram-se numa fila paralela às últimas areias lodosas. À medida que a maré subia a figura do zarolho ficava mais tapada e bastante mais lúdica para os locais que nunca tinham visto nada assim.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
A ilha dos corações partidos
Há muitos anos atrás, quando a natureza confiava no homem e facilmente lhe oferecia abrigo e comida, todos apenas se ocupavam na tarefa de ser felizes. Alguns seguiam os seus próprios prazeres, outros resolviam apaixonar-se e viver em função de um outro que podia ser o mesmo ou variar simultânea ou sucessivamente. Havia no entanto uns poucos que afirmavam ter o coração despedaçado. Numa languidez e melancolia pecaminosa ou numa intranquilidade nervosa aborreciam os demais que não os compreendiam. Não percebiam porque não seguiam o seu exemplo e ao invés criavam problemas que não existiam. Foi então resolvido que esses poucos deveriam ser exilados numa ilha que não ficava longe, mas cujo acesso difícil era somente possível em alguns dias do ano, quando o vento acalmava e a maré subia, permitindo que os pequenos barcos que lá tentavam ir, não se despedaçassem nos rochedos. Dito e feito, mal era observado o problema e depois de deixarem passar uns poucos dias para terem a certeza que estava em causa o mal condenado e não uma dor de barriga, eram remetidos para a ilha, sem apelo nem agravo. Esta até então desabitada passou a ser conhecida pela Ilha dos corações partidos. Enquanto as condições não o permitiam, eram os futuros exilados confinados num campo limitado para o seu mal não se propagar ou contagiar qualquer incauto. Ora, não obstante todos os cuidados, o número de afectados aumentava de dia para dia e alguns até pareciam ansiar pela condenação ao exílio. Entre os imunes estavam os mais velhos, mais avisados e experientes. Até que um dia repararam que entre eles já não cresciam crianças. Temeram então o pior e julgaram-se os últimos homens da terra porque os da ilha apenas poderiam ter morrido de inanição. Quando apenas restava um, meio enlouquecido pela solidão, resolveu ir até à Ilha para aí se encontrar com a sua morte. Esperou pelo vento e maré propícios e com dificuldade contornou os rochedos. Eis que quando se aproximava julgou ser vítima de uma alucinação porque ouvia risos. Quando finalmente chegou à praia foi rodeado por crianças, jovens, velhos, homens e mulheres, aparentemente nem infelizes ou felizes, contudo vivos.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Bastos caracóis e o casulo Ulissiponense
Ah, caralho! Devia ter pedido um t6 agora estou aqui na província e não posso ir ás tascas com homens a sério comer caracóis e pipis a sério. Sinto-me como um cão velhadas entre flores de funerária. As saudades que eu já tinha da minha neo-realista casinha. O meu retiro de guerreiro arrematado pela soberba doutros homens que não eu. Oh, piedosa deusa da igualdade guia-me pelas barricadas do obscurantismo e dá-me uma morada com vista para o Tagus e uma tagus para a mão. E tremoços a sério com cafés com mesas a sério. Aqui na província tudo é a brincar e eu estou velho para folguedos. Quero é caracóis, que tal como eu carregam o fardo duma casa ás costas. Sim, quero caracóis verdadeiros daqueles bem anafados. Quero caracóis que têm como eu que ter um telhado para a sua carne.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Herberto Elder é Gimli (parte I)
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Encontrei um texto muito especial sobre missões e sobre podermos ajudar como padrinhos (ou madrinhas) no blog de A Senhora Sócrates, aqui.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Bater no Ceguinho
Zé Carlos Bordalesa, invisual, enviado do Tanagrasa a Lanzarote
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
História original - Capítulo I
Queria tanto ser inédito que nunca o conseguia ser. Perdia tempos infindos a tentar criar histórias novas para se ver ultrapassado em todas as ideias. Chegava quase a parecer-lhe que um espírito maligno adivinhava o que pensava e distribuía as suas conclusões por autores voluntários. Até que um dia começou a cozinhar algo verdadeiramente novo. Para o manter absolutamente secreto permitia apenas à sua mente que o aflorasse como uma sombra. Mais do que o saber, pressentia-o. Persistia todavia o problema: como fazer para concretizar a sua criação?
(continua...)
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Arsénio Villa- Patas
Nenhum. É literatura semi-automática. E porque provoca vários sentimentos sobre a chita esse tecido-animal que corre sobre os corpos e os abafa. Alguma vez comeu uma costoleta na brasa enquanto olhava para uma flor a crescer?
Boa Mesa Bom Cagar, Arsénio Villa-Patas
A escatologia não é a melhor das qualidades de Villa –Patas embora com este livro de 1997, o supracitado Boa Mesa Bom Cagar tenha surpreendido parte da comunidade gastronómica e parte da literária. Entre nós é publicado pela Lontra Rechonchuda.
domingo, 14 de setembro de 2008
best sale girl ever
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
A múmia fala
sábado, 6 de setembro de 2008
Levantado
Séneca viveu nos primeiros anos depois de cristo, tendo-se suicidado em 65. Cartas a Lucílio é a sua obra mais conhecida. Foi concluída já na última fase da sua vida, tornando-a ainda mais interessante. É um tratado de reflexão ética e moral e um normativo teórico comportamental que reflecte o seu pensamento . Na carta 13, Séneca elogia a resiliência de Lucílio:
"Um atleta que nunca foi ferido é incapaz de afrontar o combate de ânimo alto. Só aquele que viu correr o próprio sangue, que sentiu os dentes rangerem sob os golpes, que, lançado por terra, suportou sobre o corpo o peso do adversário sem, embora abatido, nunca deixar abater o ânimo, só aquele que se ergue com mais energia de cada vez que é derrubado pode descer à arena com esperança de vencer."
domingo, 31 de agosto de 2008
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Um Desafio
Tendo terminado o nosso atelier de escrita tenho um desafio para lhes propor.
Estou a coordenar a 1ª Edição de uma Publicação de Reflexão Cultural, de nome SUB-TEXTO.
Esta publicação já teve uma Edição em 2007, comemorativa dos 10 anos da Associação Varazim Teatro, a qual faço parte e sou fundadora.
O tema central desta Edição é: Teatro porquê? para quê? e para quem? e também haverá um destaque ao Festival E-qui-in-ócio que decorrerá em Setembro na Póvoa de Varzim.
Apesar de não ter pensado inicialmente neste desafio, penso que há muito talento entre os colegas, e porque não, uma vez que tenho na mão a possibilidade, dar uma oportunidade de publicação.
O meu desafio é o seguinte (para os que o quiserem aceitar, é claro):
Enviem-me textos curtos que achem que possam ser representados em Palco. Monólogos, Peças. Ou textos, dramáticos ou poéticos que já tenham pensado que pudessem ter uma outra dimensão: a da representação.
Dependendo do tamanho seleccionarei o máximo de textos possíveis para publicar. Pelo menos 3 garanto a publicação, sendo que estes devem ter duas páginas mais ou menos (máximo).
A Edição terá 1000 exemplares e será distribuída principalmente em locais relacionados com a prática teatral e também algumas papelarias do país.
Se quiserem colaborar penso que é um desafio e uma oportunidade.
Enviem-me as vossas propostas para: fazedoresdemundos@gmail.com ou sub-texto@varazimteatro.org
Existe também o lançamento do tema principal, ao qual aceitamos participações: podem consultar em http://blog.varazimteatro.org
Obrigada,
Joana Soares
sábado, 26 de julho de 2008
Consulta
Entrou no consultório e cumprimentou-me com um informalismo a que não estou habituado nas minhas consultas, segurando-me longamente a mão direita e dando-me, com a mão esquerda, uma pancada no ombro. Disse-me o seu nome, Portugal, explicou-me ser europeu apesar da sua tradição na relação com África e América do Sul, heranças do colonialismo, como me contou em conversa preliminar antes da nossa consulta. Disse-me também estar pouco habituado a estas modernices da psicologia, mas que vinha recomendado por um amigo, também europeu, que lhe contara maravilhas dos resultados destas conversas. Interrompeu para dizer que, ainda assim, desconfiava destes resultados, até porque este seu amigo o havia traído várias vezes há algum tempo atrás. Falou-me da restauração da independência no século XVII como o fim destas traições cobardes, e das mais recentes multinacionais que inundam os seus mercados. Ouvia-o cada vez mais longe e de forma embrulhada, enquanto se repetia e perdia em pormenores, acenei-lhe a medo pois tinha feito uma pausa e continuou, poupando-me ao embaraço.
Resolvi insistir que se recostasse na poltrona para que falássemos mais seriamente. Sentou-se então, definindo uma curva entre Sines e Évora onde se dobrava no cadeirão, a ponta de Sagres assentava no chão enquanto o cabo Espichel e Peniche pendiam fora da cadeira, como pendiam as ilhas, parasitando o restante território, fossem ilhas relativamente longínquas, como os Açores e a Madeira, fossem ilhéus próximos como as Berlengas, a Armona e o Farol. Acima na cadeira, o Minho e Trás-os-Montes não encontravam apoio de cabeça, deslizando para trás.
Começou a falar novamente, pedi-lhe que começasse pelo princípio para conseguir compreender quais os seus padecimentos, além da desordem discursiva, claro.
Falou-me dos descobrimentos, que havia sido durante séculos uma nação imperial, vá lá acreditar-se. Falou-me das cortes, dos reis absolutos e liberais, das conquistas e dos fracassos no Norte de África, para deter-se longamente sobre a ditadura mais recente, que dizia, pesadamente, continuar a limitá-lo até hoje, dizia, já com a voz embargada, ter-lhe tirado a criatividade e o fulgor de uma forma irrecuperável. Lançou-se depois, bruscamente para tempos mais próximos, para as fábricas que fecham, para as crianças que não nascem, para os rendimentos que não crescem. Rematou mais tarde com uma pergunta: - Sr. Doutor, estou deprimido, não estou? Não respondi de imediato, mas pensei que estes sintomas se enquadravam mais num quadro clínico de hipocondria, misturado com algum saudosismo evitável. Peguei num frasco de placebos, que tenho sempre à mão, e disse: - Não se preocupe, tome estes comprimidos duas vezes por dia e marque nova consulta daqui a dois meses para que conversemos melhor. Levantou-se, erguendo-se sobre o Algarve, e cumprimentou-me de uma forma mais fria do que esperava, como que desapontado por não ter concordado com o seu diagnóstico, saiu, bateu a porta para não mais voltar…
Teófilo, após pesados fracassos na psicanálise de seres humanos, e depois de ter constatado a feroz concorrência existente na psiquiatria canina, dedica-se a atender países nos seus padecimentos psicológicos. São-lhe imputados os milagres Japonês e Alemão após a 2ª grande guerra, e terá feito parte do grupo de trabalho que resolveu a “Doença” Holandesa nos anos 70.
Il doppio legame
Lúcia coçava o braço esquerdo e fazia ranger os dentes enquanto lhe transmitia palavras de conforto que tinha dificuldade em articular. Inquietei-me também, solidário, e oscilei na cadeira de uma forma calculada. Os seu olhar parecia perder-se quando interrompia o discurso, para retomar o meu quando voltava a contar-me o que sentia.
Recordo-me de quando começaram a rarear-lhe as palavras, disse-me, e de como perdeu força a sua voz, que passou a apenas murmurar na maior parte das ocasiões. Desapareceram também os olhares, cada dia mais murchos, pesados e vazios. E os gestos, que se fizeram meros acenos
Desde essa altura, sombrio, passava os dias a escrever. Eram textos que nunca me mostrou, ao contrário do que fazia tipicamente com as suas publicações, fossem literárias ou científicas. Estes textos pareciam vazar-lhe a alma, sorver-lhe os sentidos como nunca havia sucedido anteriormente.
Os mesmos textos que o salvaram da loucura, mais do que o exército russo, consumiam-lhe, em vingança, agora tudo. Penso que nunca o compreendi totalmente. A maior parte dos que o podiam compreender tinham morrido há muito, num local onde também ele estava destinado a morrer.
O sentimento de culpa irracional por ter sobrevivido sempre o perseguiu. Não lhe davam descanso, as cumplicidades e os acasos felizes desta sobrevivência e pesavam-lhe o rosto e o passo. Nos últimos dias, estas recordações injustas pareciam encurralá-lo de medo.
Encontrei-o caído nas escadas, dizem que se matou, rezo para que não tenha sido assim, seria a pior das coisas.
Gorgotranda Duduli
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Um dia de sol
Ao poente começamos a comer aproveitando o dormitar da cria. Beijo depois de jantar. De língua para limpar resquícios de doce. Cedo virá a noite fresca e a lua. E aqui paro o texto porque o quero solar.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Chá das quatro
Deixara de ir fazer compras ao centro da cidade. Os transportes públicos sempre cheios de pessoas de rostos fechados e impacientes e jovens desrespeitosos pareciam-lhe muito pouco seguros. Tivera sorte naquela última vez em que caíra por aquela senhora a ter ajudado. Ajudara-a a levantar-se e acompanhara-a a casa.Via-se que era uma senhora com educação. Depois com a atrapalhação não guardara dela nenhum dado, nem o nome, e não lhe pudera agradecer.
Dependia mais do telefone. Da mercearia traziam-lhe o que encomendava. Não tão bem escolhido, é verdade, mas não podia ser exigente.
O que ainda continuava a manter, era o lanche de sábado com as suas velhas amigas.
Tinham ficado as quatro, mas nem sempre vinham todas ao lanche. Chegavam pelas dezasseis, com passos curtos e fatos finos, como já não se fazem. Sentavam-se na mesa do canto à janela. A sua mesa. Se estava ocupada escolhiam a mesa mais próxima, aborrecidas com aquela contrariedade até a esquecerem com a conversa. Ocupavam os lugares pela mesma ordem, deixando vagas as cadeiras das que faltavam. Pediam chá, escolhiam bolos, punham a conversa em dia e criticavam os novos tempos. Naquelas horas voltavam a ser elas, já não senhoras idosas, mas as raparigas da mesma idade, na segurança do que conheciam umas das outras, mais confiantes numa ordem do mundo.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Ferdinando Silvestre
Deves dizer-lhe que ela sabe a atum depois de ela te dizer tens cá uma lata.
Se gostares mesmo dela compara-a com um prato qualquer tipo lagosta ou trufa (1).
As mulheres têm preconceitos estéticos em relação á comida por isso não lhe chames rojãozinho ou filete. Evita o porco e as suas analogias, soa inconveniente ao sexo fendido. Acima de tudo lembra-te que a maioria das mulheres só querem amor, atenção e nabo picante. É minha contenção que as mulheres evitam o confronto por isso segue-lhes o exemplo, tenta convencer quando te convencem e tudo ficará bem.
(1) Mulheres de pendor alternativo gostam de analogias com tofu
Amor eterno, Ferdinando Silvestre
Não conheço mais nada da obra de Silvestre a não ser este opúsculo sobre a sedução e o entendimento entre géneros. Teve uma edição de autor há uns anos.
domingo, 20 de julho de 2008
" Tardes do Tiço`s"
" Mãos sujas" carregando o peso da existência, da liberdade não desejada...
A angústia que corroía o âmago até ao limite.
Presos na densidade dos ideais que os consumiam, dos sentimentos que os sufocavam...
E o vazio... o vazio ameno das tardes, das odes ao Ian Curtis, do fumo dos charros, dos acordes da "all my colours"... a ânsia de não ser.
Procuravam a identidade na melancolia do outro, espelhavam-se na sua relutância em viver...
Maria
sexta-feira, 18 de julho de 2008
terça-feira, 15 de julho de 2008
Prédica de domingo por Alice Strudel
Não acreditais, ó crentes, nos benefícios da comida aquecida?
Não acreditais vós na cozinha lenta?
Sois porventura glutões da carne picada?
Gostais do ar?
Gostais do pranto microbiológico dos centros comerciais,
E do sussurro dos carros nos parques,
Depois de excitado o tímpano
No rastreio em stereo dos multiplex.
Gostais porventura do zurzir surdo
Da arrazoada dos sítios sem alma
Onde vacilamos como crianças inocentes
Sem dó nem alma.
Será essa a vossa terra da fartura
Ao domingo?
Alice Strudel
Nota de alien taco: Acho a poesia de Strudel tão estimulante como as alocuções do Padre Borga. No entanto, não pude deixar de postar este poema. Talvez por anteontem ter sido domingo. A obra não tem edição portuguesa e não consegui arranjar tradução para multiplex e stereo no poema. O porquê de eu traduzir Alice Strudel é um mistério até para mim próprio. O título em inglês do livro é Porcupine Blues.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Darcy Grey Feather
Na toca da quente amada
Cheiro da mata louca
Bem cavalgada bem chegada
Delírio herbal
Na casa do suor
Sórdido tribal
+Tolo de amor
Depois há noite borracheira
Seguida de cacto amargo
E suco duma amoreira
Para tirar o travo
Darcy Grey Feather, Flores ossudas
Este poema foi lido pela primeira vez num pow-wow. Foi na reserva apache da montanha branca durante um beberete ao qual Darcy chegou já um bocado tocado com tsiwin. Este livro Flores ossudas foi publicado pela Vértice Hormonal.
sábado, 5 de julho de 2008
Elvino Sacripanta
Elvino Sacripanta, Viva Mena!
Elvino Sacripanta distinguiu-se com mérito no lançamento do dardo na década de oitenta. Desligado do atletismo dedica-se á ficção lançando Eu tu e um rodízio e o clássico A gaja das gravatas. Recentemente lançou a biografia não autorizada VIVA MENA! Tudo editado pelas Edições Anafadas.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Serviliana Dobler-Pyiu
Na manhã seguinte deram à luz dois lémures, que desataram a miar. Tendo os anões morrido no parto, a casa ficou com um grupo de lémures que imitavam gatos e um de gatos que se julgavam lémures. Quando os dois se encontraram geraram uma Entidade que era parte lémure parte gato, mas com personalidade de anão. Esse novo ser acabou com todos os outros. Ás vezes na solidão do quartzo-rosa a Entidade conversava com o butagaz cromado e dizia-lhe: Não os suportava, eram pouco parecidos comigo.
Jantar
Flávia
Jantar de encerramento do atelier
Flávia
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Gomercindo Tácito
O bico crocante
Réstias foleiras
De conas traseiras
Tudo é pecado
Até a chibata
Que dói na beata
São os da pepita
Garimpeiros do rei
Que nunca os visita
Viva a pita!
Viva a pita!
Gomercindo Tácito, Cosmética Vulvar
A obra de Gomercindo Tácito foi descrita pelas perto de oito pessoas que a leram como a expressão mais ordinária e vulgar do marialvismo. Sobre ele disse Alice Strudel “não encontro nada de belo ou de voluptuoso nas palavras de Gomercindo Tácito; é um autor pornográfico e que tenta sem o conseguir untar as partes femininas” ao que Gomercindo lhe terá respondido por carta e citamos: “o facto de a senhora achar os meus escritos vulgares enche-me de gaúdio desejo-lhe a melhor sorte nas sua lutas pelo bem estar dos vegetais . Que um pepino guie a sua mão até á sua gruta antes que fossilize ou comece a criar grelos, sua maluca". Dois poemas de G. Tácito figuram na colectânea de António Fangoria Gancho O hospício dos felizardos. A obra supra citada Cosmética Vulvar é uma edição de autor com cerca de dez anos.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Alice Strudel
Manual da revolta vegetal, Alice Strudel
Alice Strudel é uma escritora apátrida com residência em Beja onde vive. Activista dos direitos dos vegetais Alice lutou durante os anos sessenta contra a lobotomia, finda essa luta virou-se para o quintal. Desde aí não há seres da terra que ela não proteja. Os dois últimos livros, Abóbora final e O crepúsculo dos nabos foram editados pela Cinco Exemplares.
domingo, 29 de junho de 2008
O almoço do guaxinim(seguido da sesta representada graficamente pelos zzzzzzzz....)
sábado, 28 de junho de 2008
sexta-feira, 27 de junho de 2008
José António Marina
Em primeiro lugar, é uma actividade agradável, auto suficiente e portanto inesgotável. O jogo não pretende atingir fim algum fora de si próprio. Por isso é infinito. Meter um golo ou ganhar um jogo não são a sua finalidade, porque assim que acaba ,senão houver cansaço começaria outro. O corpo e o espírito captam-se como inesgotáveis e essa sensação de poder forma parte da alegria do jogo.
Elogio e refutação do engenho, José António Marina
José António Marina nascido, em 1939, em Toledo diz de si próprio “ser um observador sem domicílio fixo e um detective cultural”.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Ezequiel Sernancelhe
Ezequiel Sernancelhe, A varanda das virtudes
Ezequiel Sernancelhe é um médico de província que além de tratar as maleitas das suas aldeias se dedica ao ensaio e á entomologia. O seu primeiro ensaio Lídia Gorge não sabe assobiar vendeu dezanove cópias. A varanda das virtudes já vendeu perto de cinquenta. Ambas foram publicadas pela Desova do Lucro.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Virgolino Toledo
Oh virtude imaculada
Oh adornada bênção
Vénus dourada da extrema –unção
Leva contigo o morcão
Que sem nada querer
Fodeu a selecção
Virgolino Toledo, Darwin revisitado e a selecção natural
Virgolino Toledo nasceu numa caixa de sapatos produto dos amores de dois anões. Desde cedo viu que o mundo alto e hipócrita lhe era adverso. Tendo sido figurante na Guerra das Estrelas como Ewok, dedica-se á poesia desde há trinta anos, tendo ganho o prémio do melhor poeta do mundo abaixo do metro e cinco. A sua Espanha natal lentamente vem apreciando a poesia deste pequeno homem das palavras. Duas das suas obras, a acima citada e uma outra bastante polémica Sou anão e depois? Foram publicadas pela Retrosaria Flavius.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Terebentino Lombardo
Como é bela a sandice colada á velhice
Ás árvores ninguém desdiz a idade
Mas antes as gabam e a seus arcaicos ramos
Verdura pendente do céu
Esparregado plantado no tecto azul
Estrofes fendidas no vento
Grossa riqueza oferecida em sombra
Alvéolos dum mundo que já respira mal.
Refúgio de bichos.
Matéria de berço e de barco de recreio.
Cadeira de escola e caixão.
Árvores sandeiras, velhas matreiras
Cabe a vós salvar o mundo e a Ikea.
Terebentino Lombardo, Nú no Éden
Terebentino Lombardo é funcionário público há noventa e tal anos. O tempo livre dedica-o á poesia. Tem um papagaio loiro de bico doirado e pouco mais. Desde 2002 publica regularmente na Trampolim Taciturno sempre o mesmo livro: o clássico florestal Nú no Éden.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Jantar do Atelier - 25 de Junho
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Erva-doce mascarra boião
Ácido limão
Bruta forra fecal
Duro e inerme
Enorme verme
Aspira alvo
De flecha semente
Demente demente
E mente.
Mentiroso por gula
O poeta borra-se no eu
O papel a que limpa o cú
É primo da sua mão
Que é carne osso e tutano ( para chupar)
Pela terra
Darcy Grey Feather, A lebre e o ponto de fuga
Darcy Grey Feather é um poeta da nação Oglala, publicado pela Vértice Hormonal desde 2004. Na badana pode ler-se que é um católico animista, e que tendo sido criado por uma televisão e duas lobas tem retido a insanidade com a ajuda de grandes quantidades de álcool. De si próprio diz: “sou mais um índio bêbado fora duma reserva, vão-se foder! Se querem que eu pare de beber tragam os búfalos de volta seus cabrões.”
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Manifesto do papel macio
sábado, 3 de maio de 2008
Insensatez
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Orelhas com musgo
segunda-feira, 14 de abril de 2008
terça-feira, 1 de abril de 2008
Jantar do blogue colectivo e do atelier de escrita
Conforme mails enviados oportunamente, irá ter hoje lugar em Serralves, pelas 20.30, um jantar para o qual estavam convidados todos os colegas que frequentaram o primeiro e o segundo ateliés de escrita, e que confirmaram a sua presença até às 19 horas.
Durante o jantar que será oferecido, ir-se-ão declamar alguns poemas de Fernando Pessoa e de António Queirós.
Posteriormente, espera-se que alguns colegas do blogue, venham a redigir e a publicar aqui alguns textos sobre o evento que poderão depois vir a ser também publicados na Revista Semestral de Serralves.
segunda-feira, 31 de março de 2008
Novo atelier de escrita
Na página de Serralves na Internet já se pode encontrar a informação sobre o novo atelier de escrita que se inicia em Abril. Ver aqui
quinta-feira, 27 de março de 2008
Tonicha - Menina - videoclip
de onde se retira com galhardo regalo que Tonicha e Joana Amaral Dias são uma e a mesma pessoa.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Festa na aldeia
As pessoas ao longo da areia
Viram-se e olham todas na mesma direcção.
Viram costas à terra
Olham para o mar o dia inteiro.(…)
Uma tal preferência parece-nos “apenas natural – faz parte da natureza humana”. Mas porquê? Ela não faz parte da natureza dos primatas. Se descendêssemos meramente de um símio arborícola encalhado, os nossos instintos atávicos deviam inflacionar os preços dos hotéis com vista para a floresta, e as pessoas instalar-se-iam às centenas nas suas espreguiçadeiras para contemplar as árvores o dia inteiro.”
A Hipótese do Símio Aquático, Elaine Morgan, Lisboa, Via Óptima, 2004
Nota de Alien Taco - Este livro foi-me oferecido por Pimpinelo Rojão, por ocasião do seu 90º aniversário, em Berças de Trasco, uma remota cidadela na Terra Média. Na festa apenas eu cinco minhotas sem buço vagamente vestidas e Pimpinelo. Com os dentes cheios de arroz de sarrabulho ele disse-me: “toma tens que ler isto. Afinal há quem ache que viemos da água. Símios aquáticos, extraterrestres; Deus donde viemos nós, afinal?”- foi a pergunta de Pimpinelo enquanto se alambazava de pudim de ovos com fios dos mesmos. Eu lá li o livro do velho Rojão e agora partilho convosco este texto do dito. Pimpinelo trabalhou nos caminhos-de-ferro como comboio durante setenta e cinco anos, reformou-se há 25 e espera viver até aos cem na sua quintarola de Berças de Trasco, rodeado de gnomos de jardim e muita carne de porco. O seu lendário apetite por cultura levou-o a criar a sua própria companhia teatro: “Os Fémures da Barcarola” e uma editora a Trambolho de Bolso. No fim da festa já adornado pela bebida com olhos flamejantes disse-me : “cá para mim o segredo está na ilha de Páscoa. Esses é que sabiam.” E foi com esta enigmática e bêbada frase que se despediu emocionado o meu velho amigo Pimpinelo Rojão, o perseverante procurador do sentido e da origem do seu semelhante e dos doces conventuais.
segunda-feira, 17 de março de 2008
Leituras
sábado, 15 de março de 2008
O meu nome é legião
quinta-feira, 13 de março de 2008
O encontro das espécies
terça-feira, 11 de março de 2008
www.imeem.com
sexta-feira, 7 de março de 2008
Finalmente tenho acesso ao blog, com a imprescindível ajuda da Gabriela.
Mas continuo a reinvindicar para mim, se f. f., o primeiro prémio de "o mais nabo a lidar com estas coisas da informática".
Como não tenho mais nada para apresentar, venho dar uma sugestão: apagar a luz, pôr o som mais alto e fechar os olhos para tocar o pico do sublime com este trecho em quatro versões:
Versão A
http://www.youtube.com/watch?v=dOYsdtwLSrA
Versão B
http://www.youtube.com/watch?v=tjG6NaMKQo0
Versão C
http://www.youtube.com/watch?v=dOYsdtwLSrA&feature=related
Versão D
Depois aceita-se votação: 4 pontos na interpretação melhor, 3 na segunda, etc.
' Bora !
Um abraço ou um beijo conforme o / a destinatário / a.
Zé Mesquita ( o mais n. a l. c. e. c. da inf. )
quarta-feira, 5 de março de 2008
António
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Regras para a prática da escrita
Esta visão tem como objectivo libertar a escrita do estigma da obrigação. Felizmente posso pensar assim. Não vivo da escrita e a minhas pretensões não passam de uma forma de descobrir-me a mim próprio, ainda que esse propósito do auto conhecimento constitua um plano ambicioso e em certa medida contenha um lirismo inocente que contribui para me inebriar. Não levar-me demasiado a sério constitui sempre um bom contrapeso. Ás vezes é como fosse um jogo e brincasse ao : "escrever o que sou agora". Porem, vou sentindo necessidade de introduzir algumas regras ao meu "jogo da escrita" e pouco a pouco vou colhendo e absorvendo algumas ideias fruto dos meus interesses e procuras. Vou tendo a percepção que há vários níveis de profundidade quando mergulho nas palavras escritas e gostava de entender qual o grau apropriado para cada estado emocional. ( Sempre quis escrever uma frase parecida com esta.)
Gosto de pensar na escrita como uma terapia criativa, aliás algo que no atelier de escrita com o Mário Cláudio é explorado. Com base nesse conceito, a escritora Natalie Goldberg, norte americana especialmente conhecida pelos seus cursos de oficina de escrita, define algumas regras da prática de escrita que passo a transcrever:
" As regras de escrita são o ponto de partida, o início de toda a escrita, o fundamento para aprender a confiar na tua mente. Confiar na tua mente é essencial para escrever. As palavras saem da mente.
E alem disso creio nestas regras. Talvez seja un pouco fanática por elas.
- Actuas como se fossem regras para viver, como servissem para tudo - disse um amigo querendo importunar-me.
Eu sorri.
-De acordo, vamos provar. Servem tambem para o sexo? -Perguntou ele.
Levantei o polegar para indicar a regra número um: "Manter a mão em movimento". Assenti com a cabeça.
Dedo índice, regra número dois: " Ser concreto". Soltei um grito de júbilo.
Dedo número três: " Perder o controle". Estava a tornar-se claro que a escrita e o sexo eram o mesmo.
Finalmente, a número quatro: " Não pensar", disse eu.
Sim, tambem funcionavam para o sexo. Eu tinha razão. O meu amigo e eu começamos a rir.
Daqui para a frente experimenta estas regras com o ténis, enquanto conduzes o carro, ou preparas uma sandes de queijo ou disciplinas um cão ou uma serpente. De acordo. Pode ser que não deem resultado sempre . Mas dão com a escrita. Experimenta."
"Agora cito umas regras que não são necessariamente aplicadas ao sexo, mas que se quiseres podes tentar aplicá-las.
Não te preocupes com a pontuação, a ortografia, a gramática.
Não tenhas problemas em escrever o pior lixo da nação.
Vai directo ao "pescoço". Se surgir algo pavoroso segue-o. Aí é onde está a energia."
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Este país não é para velhos
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Poema de merda
e logo o cu aqueceu.
Das entranhas
a bem da tripa
saiu fétido folhado
de hortos e grelos.
Ali sentado no mármore
percebi que cagar é comer ao contrário.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Finalmente!!!!
Vou ler tudo com carinho e depois dar as minhas "achegas".
Até breve
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
O Rosto
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Garrida virtude
Nelson Ned - Tudo Passara
dedico este video singelo a todos os ilustres ouvintes com votos de um bom fim-de-semana.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
O Aviso 2
Nas Categorias:
Prémio por ter dado o nome ao blogue.
Nomeados:
- Tanagra
Prémio o primeiro post a seguir à sugestão para se escrever qualquer coisa
Nomeados (alguns com votos negativos dos próprios)
- Pedrocalvao
- Pedro Brandão
- Paula
- Tanagra
- Roldeck
Prémio vejam lá se postam alguma coisa
Nomeados:-Minerva
- Maria Antónia
- Gabriel Mário Dia
- Rotundas
- A. Roma
- Zeus
REGRA para a votação: Não valem votos negativos dos próprios!
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Aviso
Glifos
Venho pôr a escrita em dia
leva-la à exaustão
Conhecer o limite
saber o que determina
a tua intervenção
É a palavra
que ganha dimenção
criando este espaço entre nós
distância necessária
para entender
em ultima instância
que estas a ver
o que estou a pensar
sem nunca tu dizer
Em boa verdade
o que quero é viver
esta aventura contigo
deixar o tempo passar
ficar na tua cabeça
fazer nela o silêncio falar
O que aqui existe já passou
e por mais que se tente
não se consegue apagar
tanagra
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Cidreira
"Coimbra, 12 de Janeiro de 1971 - E era tão fácil ter paz! A bovina, evidentemente, e a que apetece, em boa verdade, na maioria das horas. O corpo afundado no sofá, e o espírito alapardado na conformação. Sorrir, aquiescer, abanar a cabeça, fingir... As pessoas querem-nos banais, passivas, conciliantes... Pois sejamo-lo. Não vale a pena contrariá-las, ser junto delas uma presença de constante inquietação... Mas, quando tudo parece bem encaminhado, um demónio interior borra repentinamente a pintura. Numa frase, numa interjeição, num gesto, ponho fim à comédia. Tiro a máscara, e mostro o rosto impaciente, crispado, rebelde a qualquer domesticação. Resultado: Um abismo de ressentimentos à minha volta. E dá-me vontade de morrer. Em nome de um homem abstracto que tento dignificar em mim, sacrifico o homem concreto que sou, o mais vulnerável dos mortais - que a secura duma resposta pode manter, como agora, acordado e desesperado a noite inteira -, tímido, agónico, Deus sabe até que ponto necessitado em certos momentos de saborear também a cidreira da felicidade sem história"
PS: Este é o último post que coloquei no meu blog (http://www.hermesrevelado.blogspot.com/), que os convido a visitar. É também uma candidatura ao prémio da redonda...
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Aconteceu
Aconteceu.
Não quero o prémio, rejeito-o.
Não como qualquer escritor maldito; não sou escritor.
Apenas um tipo que foi para um atelier de escrita sem saber bem porquê.
Talvez para Zarpar...
Zarpar
um acto falhado
na noite hedonista e no mar homérico
a alma penada enfrenta amor épico.
Rasgadas as vestes
o corpo despido
a alma ressaca
o amor prometido.
Ó mar cor de vinho
dulcíssimo balanço
que eu morra no caminho
que eu morra tentando.
E Zeus no Olimpo
recolha o defunto
emborque o seu vinho
e redima o mundo.
e até quarta, não é verdade?