quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Cidreira

Com Torga partilho sentimentos e palavras, como as seguintes do seu Diário, que podiam ser minhas...
"Coimbra, 12 de Janeiro de 1971 - E era tão fácil ter paz! A bovina, evidentemente, e a que apetece, em boa verdade, na maioria das horas. O corpo afundado no sofá, e o espírito alapardado na conformação. Sorrir, aquiescer, abanar a cabeça, fingir... As pessoas querem-nos banais, passivas, conciliantes... Pois sejamo-lo. Não vale a pena contrariá-las, ser junto delas uma presença de constante inquietação... Mas, quando tudo parece bem encaminhado, um demónio interior borra repentinamente a pintura. Numa frase, numa interjeição, num gesto, ponho fim à comédia. Tiro a máscara, e mostro o rosto impaciente, crispado, rebelde a qualquer domesticação. Resultado: Um abismo de ressentimentos à minha volta. E dá-me vontade de morrer. Em nome de um homem abstracto que tento dignificar em mim, sacrifico o homem concreto que sou, o mais vulnerável dos mortais - que a secura duma resposta pode manter, como agora, acordado e desesperado a noite inteira -, tímido, agónico, Deus sabe até que ponto necessitado em certos momentos de saborear também a cidreira da felicidade sem história"

PS: Este é o último post que coloquei no meu blog (http://www.hermesrevelado.blogspot.com/), que os convido a visitar. É também uma candidatura ao prémio da redonda...

3 comentários:

redonda disse...

Como o PedroCalvao não quer o prémio, já ganhaste! :)
Agora só tenho de arranjar o prémio...
Não conhecia este texto e gostei de o ler.

Pedro Brandão disse...

Obrigado redonda
Gostava que ganhasse o recém despertado Roldeck, por entre um espreguiçar e um bocejo cair-lhe-ia um prémio merecido nas mãos…

redonda disse...

Ele não merece Pedro, continua muito preguiçoso :)