quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

À procura do tempo fodido



Humilhação pré-puberdade

Eu devia ter á volta de oito anos. Andava em folias com o resto dos miúdos no pátio da escola. Estávamos a jogar ás escondidas. Procurei esconder-me atrás duma porta que dava acesso a uma casa de banho decrépita que na altura se encontrava em obras. Infelizmente não fui o único a procurar refúgio na recatada cagadeira que ficava por detrás da porta meia coberta por uma bela buganvília. Pedro, o Bucha, um rapaz com problemas de peso tinha escolhido esconder-se lá tal como eu. As carnes fartas do Bucha em plena correria empurraram a porta e fizeram-me aterrar na sanita onde fiquei preso. O Bucha ao reparar que eu e a retrete éramos agora uma unidade correu por ajuda. Por esta altura, enterrado na cerâmica comecei a vislumbrar os olhinhos dos outros miúdos como penas de pavão incrustadas na ramagem da buganvília. Estavam entre o riso e a surpresa num ambiente de pré-galhofa generalizada. Veio uma freira que me passou uma mão pela cabeça e passado um bocado voltou com um brutamontes que desfez com um maço o enlace carne-loiça. Encaixei dois cortes no cu e um ódio aturdido pelo Bucha. No entanto se posso apontar o pináculo da humilhação foi passar, meio a mancar pela turba ululante com as calças ensanguentadas e restos de merda que datavam de antes das obras. Enquanto carregava o meu pequeno e fétido corpo pelo pátio compreendi, e lembro-me disso distintamente, compreendi que teria sido muito pior se tivesse caído de queixo ou enfiado lá a cabeça. Outros teriam provavelmente tirado ilações sobre o universo. Eu não, eu estava só na merda.