segunda-feira, 31 de março de 2008

Novo atelier de escrita

Na página de Serralves na Internet já se pode encontrar a informação sobre o novo atelier de escrita que se inicia em Abril. Ver aqui

quinta-feira, 27 de março de 2008

Johnny Cash God's Gonna Cut You Down

Tonicha - Menina - videoclip

de onde se retira com galhardo regalo que Tonicha e Joana Amaral Dias são uma e a mesma pessoa.

NELSON NED - Tu me haces falta

segunda-feira, 24 de março de 2008

Festa na aldeia




Não custará acreditar que a prática da natação sobreviveu até à época do homem erectus; sabemos por experiência própria que sobreviveu até ao tempo do homo sapiens. As pessoas abastadas bastante para poderem idealizar os locais onde habitam constroem casas de banho e chuveiros e piscinas e passam as férias perto do mar. Uma vez aí exibem a tendência talassotrópica que fascinou Robert Frost:

As pessoas ao longo da areia
Viram-se e olham todas na mesma direcção.
Viram costas à terra
Olham para o mar o dia inteiro.(…)

Uma tal preferência parece-nos “apenas natural – faz parte da natureza humana”. Mas porquê? Ela não faz parte da natureza dos primatas. Se descendêssemos meramente de um símio arborícola encalhado, os nossos instintos atávicos deviam inflacionar os preços dos hotéis com vista para a floresta, e as pessoas instalar-se-iam às centenas nas suas espreguiçadeiras para contemplar as árvores o dia inteiro.”

A Hipótese do Símio Aquático, Elaine Morgan, Lisboa, Via Óptima, 2004



Nota de Alien Taco - Este livro foi-me oferecido por Pimpinelo Rojão, por ocasião do seu 90º aniversário, em Berças de Trasco, uma remota cidadela na Terra Média. Na festa apenas eu cinco minhotas sem buço vagamente vestidas e Pimpinelo. Com os dentes cheios de arroz de sarrabulho ele disse-me: “toma tens que ler isto. Afinal há quem ache que viemos da água. Símios aquáticos, extraterrestres; Deus donde viemos nós, afinal?”- foi a pergunta de Pimpinelo enquanto se alambazava de pudim de ovos com fios dos mesmos. Eu lá li o livro do velho Rojão e agora partilho convosco este texto do dito. Pimpinelo trabalhou nos caminhos-de-ferro como comboio durante setenta e cinco anos, reformou-se há 25 e espera viver até aos cem na sua quintarola de Berças de Trasco, rodeado de gnomos de jardim e muita carne de porco. O seu lendário apetite por cultura levou-o a criar a sua própria companhia teatro: “Os Fémures da Barcarola” e uma editora a Trambolho de Bolso. No fim da festa já adornado pela bebida com olhos flamejantes disse-me : “cá para mim o segredo está na ilha de Páscoa. Esses é que sabiam.” E foi com esta enigmática e bêbada frase que se despediu emocionado o meu velho amigo Pimpinelo Rojão, o perseverante procurador do sentido e da origem do seu semelhante e dos doces conventuais.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Leituras


Confesso que não tive oportunidade de ler o livro O meu nome é guião. Mas o título é catita. De Lobo Antunes tive o prazer de ler a Memória de Altifalante onde como toda a gente me pasmei perante a parábola do elefante e do cornaca. Para quem não leu o livro trata-se duma pequena estória sobre um cornaca sádico que todas as manhãs sorvia o seu leite de coco depois de abrir o mesmo coco na cabeça do elefante. Durante anos o elefante aguentou mas um dia ao entardecer pegou num coco e esmagou a cabeça do cornaca. Mas a beleza de toda a parábola jaz no facto de ninguém saber se o elefante comeu o coco ou não. Li também o belo Ontem não te vi na Lapónia, onde o personagem Ravintola abandona a sua ocupação de vendedor de gomas em Helsínquia para ver a aurora boreal e encontrar o seu guia animal. E mais não digo. Recomendo toda a obra de Lobo Antunes até os livros que ele ainda não escreveu. Sendo psiquiatra não é maluco de todo, o que é, como é sabido cousa muy rara.


sábado, 15 de março de 2008

O meu nome é legião

Qual dos colegas - bloggers leu o último livro de Lobo Antunes e quer dar uma opiniãozinha ? ? ?

quinta-feira, 13 de março de 2008

O encontro das espécies

Numa festa de galantine bizarro amor,
uma jovem encontrada nua e sorridente em galante pose.
A seu lado, um fox terrier exausto fumava um cigarro.
A donzela fumava também.
Ao longe Tintin fugia abotoando as bragas.

terça-feira, 11 de março de 2008

www.imeem.com

Continuando a falar de música ( Benvindo Zé Mesquita!), e para quem gosta de encontrar música na Web fica a indicação de um site com muita música online. Inclusivé podem copiar as músicas para blogs, páginas pessoais, etc, como fiz com a música do JP Simões. Gosto do ritmo e acho a letra genial.



sexta-feira, 7 de março de 2008

Vivam !
Finalmente tenho acesso ao blog, com a imprescindível ajuda da Gabriela.
Mas continuo a reinvindicar para mim, se f. f., o primeiro prémio de "o mais nabo a lidar com estas coisas da informática".
Como não tenho mais nada para apresentar, venho dar uma sugestão: apagar a luz, pôr o som mais alto e fechar os olhos para tocar o pico do sublime com este trecho em quatro versões:

Versão A
http://www.youtube.com/watch?v=dOYsdtwLSrA

Versão B
http://www.youtube.com/watch?v=tjG6NaMKQo0

Versão C
http://www.youtube.com/watch?v=dOYsdtwLSrA&feature=related

Versão D

Depois aceita-se votação: 4 pontos na interpretação melhor, 3 na segunda, etc.

' Bora !

Um abraço ou um beijo conforme o / a destinatário / a.

Zé Mesquita ( o mais n. a l. c. e. c. da inf. )

quarta-feira, 5 de março de 2008

António

O calor e a ansiedade encharcavam a face de António. Os fios que tombavam da sua testa aliavam-se ao cansaço que lhe pesava as pestanas. O suor escorregava, em gotas, pela cana do nariz, para se acamar nas covas do seu lábio superior. Acumulava-se a água, como um bigode, por cima da boca até ser sacudida por um safanão violento vindo do volante. Outros fios escorriam-lhe nas costas provocando arrepios embaraçosos que o deslocavam no banco. Habituara-se ao suor desde que começara a tomar peso, ainda antes de partir para África, mas, aquela viagem apressada, estava a transformá-lo num pano encharcado. Uma mosca enamora-se do seu ouvido esquerdo em tangentes sonoras incómodas que procurava interromper com o esgar do pescoço na direcção da janela. As mãos melosas tentavam alcançar a alavanca para abrir o vidro, permitindo expulsar a mosca e repor alguma justiça na sua temperatura corporal.
Há mais de cem quilómetros que não falava, os pensamentos ocupavam-lhe a mente, não deixando espaço para o discurso. Ao seu lado, Júlio não se atrevia a quebrar o silêncio. Noutras circunstâncias talvez o fizesse mas, desta vez, limitava-se a refrescar-se com água e a desejar que a noite anterior nunca tivesse acontecido. Preparava, há algum tempo, uma interjeição que resolvesse aquele desconforto que se adensava mas, desistia sempre no último momento. Descrevia gestos tensos, ora arrastando as mãos sujas pelas coxas, ora coçando violentamente as patilhas até que se enchessem os ombros de caspa fina. Júlio nunca fora um tipo violento, nem mesmo com os pretos em África, a quem raramente levantava a mão, mas o álcool e uma zaragata foram suficientes para o levar à vertigem que o condenou.
Aproximava-se a fronteira, forçando a paragem para que Júlio se escondesse na bagageira do Volvo. Escondeu-se por baixo de umas mantas e de uns sacos de viagem que serviriam para o disfarce, pediu mais uma vez desculpa como um cão arrependido e envolveu-se quieto. António tornou ao volante, apesar de ter ponderado abandonar o carro naquele momento. Recordou, nesta altura, a fronteira da Namíbia, que passou vezes sem conta em direcção à Africa do Sul, o calor e a poeira davam particular credibilidade a esta recordação.
Chegado à fronteira, António parqueou o carro e meteu conversa com o fiscal que se preparava para vistoriar o carro. Abriu a bagageira, onde se distinguia um pé de Júlio enroscado por baixo dos sacos. Um choque de pânico percorreu António, que se viu perdido naquele momento. Puxou as calças para cima, num gesto nervoso que muitas vezes repetia, e retomou um ar calmo. Julgando ser o pé de um morto e temendo o pior também para si, o fiscal disse a António que seguisse.
Seguiram para Tui onde ficou Júlio, em lágrimas, com algum dinheiro para a fuga. Uma semana mais tarde, ainda com dinheiro no bolso, voltou a Portugal e entregou-se à guarda.

Desenho - Andreia Dias
Este é o último post do meu blog, para que mais gente o leia, tem poucas visitas este meu blog (http://hermesrevelado.blogspot.com).