segunda-feira, 24 de março de 2008

Festa na aldeia




Não custará acreditar que a prática da natação sobreviveu até à época do homem erectus; sabemos por experiência própria que sobreviveu até ao tempo do homo sapiens. As pessoas abastadas bastante para poderem idealizar os locais onde habitam constroem casas de banho e chuveiros e piscinas e passam as férias perto do mar. Uma vez aí exibem a tendência talassotrópica que fascinou Robert Frost:

As pessoas ao longo da areia
Viram-se e olham todas na mesma direcção.
Viram costas à terra
Olham para o mar o dia inteiro.(…)

Uma tal preferência parece-nos “apenas natural – faz parte da natureza humana”. Mas porquê? Ela não faz parte da natureza dos primatas. Se descendêssemos meramente de um símio arborícola encalhado, os nossos instintos atávicos deviam inflacionar os preços dos hotéis com vista para a floresta, e as pessoas instalar-se-iam às centenas nas suas espreguiçadeiras para contemplar as árvores o dia inteiro.”

A Hipótese do Símio Aquático, Elaine Morgan, Lisboa, Via Óptima, 2004



Nota de Alien Taco - Este livro foi-me oferecido por Pimpinelo Rojão, por ocasião do seu 90º aniversário, em Berças de Trasco, uma remota cidadela na Terra Média. Na festa apenas eu cinco minhotas sem buço vagamente vestidas e Pimpinelo. Com os dentes cheios de arroz de sarrabulho ele disse-me: “toma tens que ler isto. Afinal há quem ache que viemos da água. Símios aquáticos, extraterrestres; Deus donde viemos nós, afinal?”- foi a pergunta de Pimpinelo enquanto se alambazava de pudim de ovos com fios dos mesmos. Eu lá li o livro do velho Rojão e agora partilho convosco este texto do dito. Pimpinelo trabalhou nos caminhos-de-ferro como comboio durante setenta e cinco anos, reformou-se há 25 e espera viver até aos cem na sua quintarola de Berças de Trasco, rodeado de gnomos de jardim e muita carne de porco. O seu lendário apetite por cultura levou-o a criar a sua própria companhia teatro: “Os Fémures da Barcarola” e uma editora a Trambolho de Bolso. No fim da festa já adornado pela bebida com olhos flamejantes disse-me : “cá para mim o segredo está na ilha de Páscoa. Esses é que sabiam.” E foi com esta enigmática e bêbada frase que se despediu emocionado o meu velho amigo Pimpinelo Rojão, o perseverante procurador do sentido e da origem do seu semelhante e dos doces conventuais.

Um comentário:

redonda disse...

Tenho que procurar esse livro.
Mas ainda gostei mais da nota.