segunda-feira, 30 de junho de 2008

Alice Strudel


É com pouca alegria e remansos de fel que me vejo forçada a criticar a actual politica em relação ao tratamento inumano a que os melões são sujeitos. Desde a sua colheita, durante o seu transporte até aos pontos de venda. São arrancados á terra com brutalidade ímpar, são degradados aos trambolhões em furgonetas e camiões. Finalmente são expostos nus nas prateleiras dos mercados. Mas ignomínia das ignomínias antes de serem transladados para os nossos lares comensais, são apalpados por dedos ciosos de repasto beatífico. São depois retalhados e devorados pelos humanos de cujos lábios pende um sangue transparente destes infelizes. Das pevides, mais cónicos escravos são obrigados a nascer. Os melões são como nós. Acabem com a sua miséria. Sejam humanos com os melões.


Manual da revolta vegetal, Alice Strudel


Alice Strudel é uma escritora apátrida com residência em Beja onde vive. Activista dos direitos dos vegetais Alice lutou durante os anos sessenta contra a lobotomia, finda essa luta virou-se para o quintal. Desde aí não há seres da terra que ela não proteja. Os dois últimos livros, Abóbora final e O crepúsculo dos nabos foram editados pela Cinco Exemplares.

domingo, 29 de junho de 2008

O almoço do guaxinim(seguido da sesta representada graficamente pelos zzzzzzzz....)


Abetarda singela
Croutton molhado
Em doce de beringela
Párias de coalhado

Grandiosa salada
Molete ensopado
Carcassa cevada
Brie grelhado

Molho de alho
Repuxo de buxo
E um bandalho
Ávido de luxo

Bifes de foca
Milho real
E silencio na toca
Zzzzzzzzzz……….

Flamenco 3D (anaglyph)

sábado, 28 de junho de 2008

Adoro o verão, a perspectiva das férias, o calor do sol na pele, andar com pouca roupa, sentir no final da tarde o vento quente a levantar-me o vestido e a afagar-me o cabelo para me fazer cócegas nos braços.
Adoro a ideia de ir ter tempo para ler livros, trocar palavras com quem já não estou há demasiado tempo, estar com os amigos, estar com quem gosto.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

José António Marina


Quando digo que a inteligência joga, não falo metaforicamente. A inteligência joga consigo mesma executando as suas actividades livremente por fruição, prescindindo de normas e finalidades, insubmissa e incansável. Numa palavra, comporta-se com engenhosidade. No engenho estão todas e cada uma das características do jogo.
Em primeiro lugar, é uma actividade agradável, auto suficiente e portanto inesgotável. O jogo não pretende atingir fim algum fora de si próprio. Por isso é infinito. Meter um golo ou ganhar um jogo não são a sua finalidade, porque assim que acaba ,senão houver cansaço começaria outro. O corpo e o espírito captam-se como inesgotáveis e essa sensação de poder forma parte da alegria do jogo.


Elogio e refutação do engenho, José António Marina


José António Marina nascido, em 1939, em Toledo diz de si próprio “ser um observador sem domicílio fixo e um detective cultural”.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ezequiel Sernancelhe


As minhas grandes referências não são literárias, daí o facto de eu escrever tão mal. As minhas influências são o saudoso Roussado Pinto e aquele brilhante pasquim que era o Jornal do Incrível. Outro grande cacho do lagar da minha criação é a poesia popular escrita em casas de banho de café. Acho que no actual contexto a cultura precisa não de ser elogiada mas sim de ser torturada. Disponho em meu poder vários desses instrumentos a saber: o strapado para autores chatos como o caralho, o aseli para poetas de merda, as tablillas para os pedantes cheio de floreados, a escalera para os ficcionistas de trambolhos, a gehena para as escritoras de chás de caridade, o tijolo quente para os donos das barracas pequenas, e a dama de ferro para os igualmente cabrões donos das barracas grandes.


Ezequiel Sernancelhe, A varanda das virtudes


Ezequiel Sernancelhe é um médico de província que além de tratar as maleitas das suas aldeias se dedica ao ensaio e á entomologia. O seu primeiro ensaio Lídia Gorge não sabe assobiar vendeu dezanove cópias. A varanda das virtudes já vendeu perto de cinquenta. Ambas foram publicadas pela Desova do Lucro.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Virgolino Toledo


Patarata

Oh virtude imaculada
Oh adornada bênção
Vénus dourada da extrema –unção
Leva contigo o morcão
Que sem nada querer
Fodeu a selecção


Virgolino Toledo, Darwin revisitado e a selecção natural




Virgolino Toledo nasceu numa caixa de sapatos produto dos amores de dois anões. Desde cedo viu que o mundo alto e hipócrita lhe era adverso. Tendo sido figurante na Guerra das Estrelas como Ewok, dedica-se á poesia desde há trinta anos, tendo ganho o prémio do melhor poeta do mundo abaixo do metro e cinco. A sua Espanha natal lentamente vem apreciando a poesia deste pequeno homem das palavras. Duas das suas obras, a acima citada e uma outra bastante polémica Sou anão e depois? Foram publicadas pela Retrosaria Flavius.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Terebentino Lombardo


Versos arborícolas

Como é bela a sandice colada á velhice
Ás árvores ninguém desdiz a idade
Mas antes as gabam e a seus arcaicos ramos
Verdura pendente do céu
Esparregado plantado no tecto azul
Estrofes fendidas no vento
Grossa riqueza oferecida em sombra
Alvéolos dum mundo que já respira mal.
Refúgio de bichos.
Matéria de berço e de barco de recreio.
Cadeira de escola e caixão.
Árvores sandeiras, velhas matreiras
Cabe a vós salvar o mundo e a Ikea.



Terebentino Lombardo, Nú no Éden


Terebentino Lombardo é funcionário público há noventa e tal anos. O tempo livre dedica-o á poesia. Tem um papagaio loiro de bico doirado e pouco mais. Desde 2002 publica regularmente na Trampolim Taciturno sempre o mesmo livro: o clássico florestal Nú no Éden.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Jantar do Atelier - 25 de Junho

Foi marcado para quarta feira dia 25 de Junho um jantar. Quem queira ir e ainda não o tenha dito, pode falar com o Roldeck ou enviar-me um mail para escritaredonda@gmail.com que prontamente lhe transmitirei.
Para tranquilizar qualquer eventual interessado garanto expressamente que neste jantar não vou tentar entregar nenhum dos prémios anuais que ficaram por entregar (que foram todos).

segunda-feira, 16 de junho de 2008




Cheira-me a éter
Erva-doce mascarra boião
Ácido limão
Bruta forra fecal
Duro e inerme
Enorme verme
Aspira alvo
De flecha semente
Demente demente
E mente.
Mentiroso por gula
O poeta borra-se no eu
O papel a que limpa o cú
É primo da sua mão
Que é carne osso e tutano ( para chupar)
Pela terra

Darcy Grey Feather, A lebre e o ponto de fuga


Darcy Grey Feather é um poeta da nação Oglala, publicado pela Vértice Hormonal desde 2004. Na badana pode ler-se que é um católico animista, e que tendo sido criado por uma televisão e duas lobas tem retido a insanidade com a ajuda de grandes quantidades de álcool. De si próprio diz: “sou mais um índio bêbado fora duma reserva, vão-se foder! Se querem que eu pare de beber tragam os búfalos de volta seus cabrões.”