terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Novo atelier de escrita

Penso que o novo atelier de escrita em Serralves, com o tema "Homens e Bichos" teve início na quarta-feira passada. Como não pude ir, será que alguém que passe por aqui e tenha ido, me poderia dizer:
- Como é que foi a primeira sessão?
- Ficámos como algum TPC?
- Vai haver sessão amanhã?
Seria óptimo uma resposta em post ou em comentário aqui ou então em mail para escritaredonda@gmail.com

domingo, 19 de julho de 2009

Desprezível


Sobre o romance As Benevolentes de Jonathan Littel, diz Mario Vargas Llosa que não contém um único personagem que não seja absolutamente desprezível. É verdade, mas o livro é muitíssimo bom.
As Benevolentes são uma viagem épica sobre a distorção moral do homem e sua disponibilidade para o mal absoluto. Max Aue, personagem fícticia que escreve as suas memórias, conta-nos a maneira como ascendeu na estrutura SS Nazi. Percorre também os seus tempos na frente de Estalinegrado e descreve a inominável vida nos campos de concentração e extermínio. Fá-lo, por um lado, com uma falta de arrependimento explícito e, por outro lado, com a ilustração dos seus constantes dilemas morais.
Na mitologia grega As Benevolentes, também conhecidas por Erínias ou Eumênides, são deusas perseguidoras, vingadoras e secretas.
É díficil dizer-se o que faz de uma obra intemporal, ou incontornável. É díficil dizer-se que papel terá As Benevolentes na literatura. Depende de Littel e dos seus próximos livros e depende de outras coisas. Para já, As Benevolentes é um romance magnífico.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Welcome to Vulcan, Canada - G4tv.com

olá redonda ,rica vila espacial não achas? :)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Praça da Alegria - receita - "Bife à Chefe Silva"

O chefe Silva no seu melhor bife de sempre.Um mestre no seu melhor.Não houve crueldade nestas filmagens ,a vaca foi sedada antes de lhe ser retirado o bife.

sábado, 27 de junho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Lendas Gregas


A serena e ornamentada sequência de acontecimentos segue com minúcia a caracterização duma cena cujo rendilhado picaresco, digo picaresco porque não quero subverter a curiosidade dos queridos leitores com o termo pornografia. Um impante falo rodeado de limos com lapas e conchas sedimentados nos colhões inchados a foder com um lago salgado e morno cheio de plantas e animais que esperam em frenesim erótico a descarga em onda do enorme pau, destacado mastro de veleiro, que assim se transporta pelas algas estiradas da margem do lago oh, sim que apenas poça parece ao ser assim roçado. O enorme bacamarte afoga-se lentamente como o último grumete da última vigia a ser sugado por um mar calmo e receptivo no corpanzil de lançadora de pesos que era a lagoa. E fodem com golfinhos zangados o mastro inchado do veleiro e a lagoa. E fodem como principiantes e depois mais devagar como reformados e depois aceleram para os vinte anos e finalmente a lagoa fica branca e tranquila o mastro do veleiro já cuspiu. E foi por esses dias que os locais começaram a chamar àquele sítio a Lagoa de Ouzo um espécie de pastis grego que torna a água esbranquiçada cor de sabão ou nhanha.
Popeye Green, Lendas Gregas, Ed. Quasimodo, 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Anti-Poema ou Poema Extremófilo (como nos bichinhos)

Um frasco de absinto com água das pedras
Um rectângulo cheio de Fedras
Rotundas para mamar betão
E o resto é restolho de Mirmidão

Conversos conventos e éter
Fugazes virtuosos
E o brilho ofuscante do cagalhão de beterrava
Terra brava de escravos
Salgueiros pagos no Paraíso
Ideia iníqua
E conclusão ridícula.

JCM sobre Branca de neve (II)

Estonian Folk Dancing Part 1

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O naufrágio do mar



Verrugas usando os lábios comem os escolhos das caras naufragadas.
Refastelam-se as santolas com os restos dos marinheiros.
É fartar vilanagem que há muito que comer
Muito a ser roído pelo mar que engole desde medula de marinheiro a aços de proa.
Comilão corrosivo sempre borracho com mercúrio e outros manjares
E do que os barcos vomitam e cagam.


O naufrágio do mar (excerto), Popeye Green, Edição de autor

sábado, 6 de junho de 2009

William Shatners Common People lego animation

belo poema ,excelente animação.

Geronte Bucéfalo Jr.



A Ilha dos Imortais

Dentro de um barco, estão homens.
O barco está dentro duma garrafa.
Tudo isto é normal, aborrecido.
Mas, os corações dos marinheiros
Estão fora dos corpos, pregados à pele.
Isto é anormal, absurdo mas excitante.

Ao chegarem à ilha os marinheiros entregaram os corações
Às mulheres do fim do mundo.
Artérias e aortas brilhavam em mãos de prata.
Elas podiam ver o pulsar por fora,
examinar os porquês do amor, contar os níveis de ritmo
eram eles nas mãos delas
as mulheres do fim do mundo comeram os corações
num repetir de mandíbulas ,
Não queriam ciência, mas carne.
Repletas as bocas de carniça,
faltava preencher o último vazio e consumar a boda.
Cheios de mar, os chegados, encheram-lhes as flores
Com nacos de carne e litros de leite.

Ninguém olhou para trás ao deixar terra.
Na praia, acenando, ficaram as mulheres do fim do mundo
Deusas grávidas dos mareantes.


Geronte Bucéfalo jr., Águas, Ed. Quasímodo, 2011

G. B jr. Publicou este livro em 2011 e foi aclamado pela Academia de Letras dos Dentistas e agraciado com o prémio Doc. Holliday / Almada Negreiros em 2010. Actualmente encontra-se no passado.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pulp wait to play "Common People" on Italy's Roxy Bar

Versos arborícolas



A salvação do Ikea

Como é bela a sandice colada á velhice.
Ás árvores ninguém desdiz a idade
Mas antes as gabam e aos seus arcaicos ramos
Verdura pendente do céu
Esparregado plantado no tecto azul
Estrofes fendidas no vento
Grossa riqueza oferecida em sombra
Alvéolos dum mundo que já respira mal.
Refúgio de bichos.
Matéria de berço e de barco de recreio.
Cadeira de crisma e caixão.
Árvores sandeiras, velhas matreiras
Cabe a vós salvar o mundo e o Ikea.



Terebentino Lombardo, Nu no Éden


Terebentino Lombardo é funcionário público há noventa e tal anos. O tempo livre dedica-o á poesia. Tem um papagaio loiro de bico doirado e pouco mais. Desde 2002 publica regularmente na Trampolim Taciturno sempre o mesmo livro: o clássico florestal Nu no Éden.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Serralves em Festa 09 Entrevista com a Vénus de Willendorf



Aproveitando o Serralves em Festa tive ocasião de entrevistar a Vénus de Willendorf, que se apresentou com a sua peça-performance Cona Gorda. Descontraída e com um inglês de leve acento teutónico, a beldade ancestral propiciou-me esta breve e descomposta entrevista.

Qual a sua opinião sobre a lipoaspiração?
Acho uma estupidez.
Qual a sua comida favorita?
Tudo desde que esteja morto e cozinhado e isso inclui vegetais, frutos carne de caça e fast food e também alimentos pré-cozinhados e congelados. Também gosto de peixe cru e bife tártaro.
Qual a sua opinião sobre o aquecimento global?
Vai aumentar a venda de gelados bebidas frescas e granizados. Vai também aumentar a percentagem de bebedeiras nocturnas para ficarmos quentinhos toda a noite e podermos dormir de dia e assim evitar a exposição prolongada ao sol para não ficarmos sem pele.
Gosta de Portugal?
Sim muito é um país onde ainda há muita fé no princípio feminino, por isso nunca me deixam pagar nos restaurantes. Ontem por exemplo comi um atum inteiro grelhado com uma arroba de batatas e só me cobraram os 150 finos com groselha, são uns queridos.
Agora uma pergunta de cariz pessoal algo melindrosa, é verdade que rompeu o seu enlace amoroso com o boneco da Michelin?
Não quero falar nisso, puta que par…. esse magricela de mer….!!!!
O que acha de Boticelli?
O melhor pintor de anorécticas de todos os tempos.
Conhece alguma coisa da cultura portuguesa?
Sim é uma cultura fascinante, é rica e gorda.
Que anda a ler neste momento?
Schnitzler, os aforismos.
O grande mistério que gostaria de descobrir?
É mais uma pequena curiosidade, gostaria de descobrir o teor relacional de Rosa Botero com os anões.
Relativamente à sua performance aqui no Serralves em Festa o que é realmente o espectáculo Cona Gorda?
Foi uma ideia que eu tive antes de me separa do meu último casamento com um lutador de sumo, antes de eu o deixar em lágrimas ele disse-me que eu era a cona gorda dele
Vindo dum homem que eu amava essas palavras nunca me deixaram e pouco depois ele morreu esmagado no ringue. Sempre lhe disse para ele comer mais mas era um pisco, e pagou por isso. Basicamente Cona Gorda a peça é o diálogo entre mim e o fantasma dele.
Projectos futuros?
Amar comer ser feliz e criar.
No plano artístico pretendo fazer uma peça de cariz vingativo e pessoal contra o filho da pu… do Michelin, esse cabr….
Pretendo ainda retomar a terapia relativa ao mal que me aflige: o sindroma de tourette.
Obrigado pelo seu tempo e simpatia.
De nada seu cabr…de mer…minetei…

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Serralves em Festa 09


Os dez, vinte anos de Serralves pelo olhar atento de Serafim Ogro fotógrafo de ocasiões, vulgo casamentos e baptizados. Algo lhe captou o olhar nesta catita e pouco formatada beldade.

sábado, 30 de maio de 2009

Epifania ao amanhecer




Vi um gatinho a miar numa sardinheira
Ouvi um gaio assobiando numa mansarda
Senti um anjo a pairar sobre estrumeira
Cheirei o pio duma abetarda
Vulgares são todas as coisas mesmo as raras
Só Deus é Único ao inventá-las.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mostra de Autores Portugueses Grandes


Ousei então com suave e esquinado olhar percebe-la no meio da banheira com a touca metida nas orelhas como uma sereia de peitos vivos. Tudo começou a ficar molhado conforme ela se contorcia a dançar uma música oriental e atirava a água para o chão que agia como o mármore age, isto é, mantendo tudo onde estava.

Vou a banhos!, Gertrudes Triba D´Ista, Edições Vers le Coni, 2009


Um dia tão lindo que dá vontade de sair de casa com o último livro da Júlia Pinheiro e ir para o parque receber a grande natureza levar uma merenda partilhá-la com outras pessoas, parece um falso verão índio difuso de pasteleria sensível e furnida e o verde primaveril. O colorido das flores naturais manchados com uma espectral e colorida roda psicadélica. Estonteante. No fim do lanche quando já sentirem o peso das vitualhas nas entranhas dirijam-se à mata e com as páginas do romance aliviai vosso cú de remansos de merda folículos de festim. As páginas jazem entre os verdes matagais o seu branco tingido por restos que estrumariam a terra não fossem desviados para tão vil fim.

O quadro português, Bergantin Marmota, Edições Vers le Coni ,2009

sábado, 9 de maio de 2009

Viva Vasco Granja! (bonecada Vs catequese (crónicas da infância))



Vasco Granja foi um dos grandes amigos da minha vida de criança até começar a ter borbulhas e começar a sentir tesão pelas empregadas fabris que orlavam a casa dos meus pais de meias e chinelos com fardas que não raro aprofundavam as curvas da espécie quando comprimidas. Isso era à semana. Ao sábado havia bonecada e catequese.
Mas voltemos atrás a Vasco Granja, esse homem que a esta hora deve estar no céu rodeado de estranhos e abstractos desenhos animados checos e de Droppies a ter uma conversa com Tex Avery sobre a amabilidade dos anjos de só falarem português e inglês para cada um deles. Do que me lembro até certa altura havia uma certa falta de recursos da minha mãe para que eu fosse á catequese quem em certa medida era o Nemesis do Granja nas tardes de sábado. No entanto, fomos construindo entendimentos que me permitiam faltar de vez em quando desde que não deixasse de ir ter com Jesus numa base regular.
A arte de Vasco Granja em escolher e apresentar desenhos animados era um oásis de imaginação numa televisão primitiva pouco apetecível para as crianças. Não sei o que aconteceu á minha catequista que era boa mulher embora um pouco tosca mas de grande coração, provavelmente também já morreu deve estar no céu a falar com os anjos sobre o custo da redenção ou outra coisa meia tosca tipo a diferença entre a orelha colada por Jesus no soldado e a orelha de Van Gogh, que deve estar ao lado resmungando que se o tivessem deixado podia ter dado um bom padre.
Toda esta bizarra combinação de elementos falsamente auto-biográficos e sacristia-cartoon para homenagear a figura singular e amável do homem que semeava bonecada pode parecer estranha, mas se quiser coisas coerentes vá pró Abrupto! Este é um blog de ideias híbridas e conteúdos avulsos e incoerentes. Viva Vasco Granja!


Nota. Quando digo este é um blog pode parecer ligeiramente esquizofrénico visto praticamente só eu escrevo aqui. E além de parecer é mesmo.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ajudem-me, amiguinhos!

Um dia envolto em dura parcimónia. Uma escada aberta por uma cisma de velho doido que tendo ficado paralisado pelos ventos tardios do amor ali jazia na cadeira de rodas como um vulgar lírio com a sua camisa amarela metido no vaso com rodas. O velho general tinha mandado abrir aquele acesso ao sótão para poder brincar com a neta, mas nunca tinha ido lá porque entretanto entrevara, vítima dum alongamento ousado da doença volante que o corroía. Assim Alice tinha que vir brincar com o velho para o seu apertado escritório onde só havia livros e estatuetas. Na sexta-feira Ermengarda tinha tido um avc não sem antes ter lido ao general um excerto de histórias de cavalaria e de lhe ter feito o broche de quarta-feira. Na quinta-feira sentiu-se mal, foi-se deitar e morreu. Antonino tinha ficado sem a criada duma vida e isso entristeceu-o. Começou a recusar a comida e refugiava-se no retiro para ouvir canções líricas. A sua dieta resumia-se a broa de milho peixe cozido e álcool. O primo Gerôncio mudou-se para a casa e veio fazer as vezes da falecida pelo menos até que se arranjasse outra criada para servir o rodinhas. O primo Gerôncio era um decorador de interiores e pintor amador que nunca tinha vivido com ninguém, mas era uma boa alma e tinha grande apreço pelo general que tinha salvo a sua mãe mais do que uma vez de situações difíceis, dado ser uma cinquentona com necessidades de botox e compras de roupa e pouco dotada de plástico, divorciada dum ex-toxicodependente que mal conhecia Gerôncio.
Antonino estava deprimido os olhos pareciam acinzentados pantanosos absorvidos por tudo que há de restos nos pântanos o entulho do lodo. Ficavam mais leves quando já estava bebido. Era um elefante velho e já pronto para a longa marcha rumo ao depósito de carcaças trabalhadas a marfim. O barulho de pequeno brinquedo da cadeira de rodas eléctrica fazia um todo com a carne do entrevado. Foda-se, parecia um cyborg.

General Cyborg, romance, MR, 2008

Este é o princípio do meu livro que está quase pronto. Alguém tem alguma ideia para onde posso mandar esta merda? (respondam por e-mail, por favor)

177 Páginas de prosa viciada em desapego total pelo lógico comportamento dos personagens. Recurso ao adjectivo fácil, à manha à pouca-vergonha e falta de respeito. Target de leitores possível: toda a gente com problemas emocionais ou mentais. Gente desequilibrada que ainda não tenha aderido ao feng-shui ou ao yoga, crentes, fãs de ficção-científica, renegados psicanalíticos, nativos norte-americanos, donas-de-casa em Xanax, fãs de playstation, e todas as espécies não leitoras. Até agora a população não-leitora que mostrou mais entusiasmo com a leitura foi um grupo de ornitorrincos dum jardim zoológico do norte da Europa. A primeira página deixou-os loucos de contentamento. Perfil do editor: meia-idade loira de olhos escuros e com disponibilidade para adiantar dinheiro sobre edições futuras, se for do planeta Duplus e tiver vagina dupla considerarei isso uma vantagem.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Poema final



Aos Amigos

Porque procuro no poema final e definitivo a face de Deus,
todos os versos que escrevi me hão-de condenar ao inferno.

Jorge Reis-Sá, Biologia do Homem, Quasi, 2004


Ao Inferno não digo, rapazola, mas és capaz de passar algum tempo no Purgatório, não por estes versos mas por todos os outros que de forma tola e melíflua soltaste neste mundo. Mas não te preocupes, depois de chateares algumas almas penadas, S.Pedro virá para te levar ao Paraíso onde poderás ver finalmente Deus. Devo no entanto avisar-te que Este estará de costas ouvindo chalaças de Tchecov sobre o portuga que meteu a padaria na sacristia. Tchecov em horrenda chacota conta anedotas referindo-se a ti como o poeta da broa mística e do folar salteado à luz da manhã. Só uma coisinha, durante os tempos de Purgatório poderás contar com cargas diárias de porrada administradas por Rimbaud que está insatisfeito com o Purgatório e quer ir para o Inferno a todo o custo para beber uma cerveja e encontrar outros contrabandistas e velhacos em geral.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Variação onírico-automática sobre o romance No Silêncio de Deus de Patrícia Reis



E então à tardinha fui parar a uma coffeeshop perto da Leidseplein e fiquei lá a beber um Chocomel. Grandes nuvens de fumo saíam de todos os lados. Pequenas fábricas de eternidade passavam os vulcões pulmonares e projectavam-se no vazio da sala fechada pelo tecto. Pedi uma abrótea com maionese de toranja. As pessoas que não conversavam faziam puzzles ou liam o jornal. Fui ao balcão e a meio a abrótea fugiu pela porta fora. Quando voltei estava sentada na mesa a escritora Patrícia Reis com uma ampulheta na mão. Tinha uma cara linda e podia sem custo fumar á chuva. Lá fora o duro padrão do céu augurava uma crucificação à Gauguin. Num pé a escritora tinha um soco holandês e no outro uma sandália árabe. Estava acompanhada por um cogumelo e um homem mais velho: Boa noite, sou o senhor Ayahuasca- apresentou-se ele. Foram vocês que assustaram a abrótea. – Não, respondeu ela com a elegância egoísta das beldades. Resolvemos ocupar a mesa antes que a maionese fugisse concluiu a escritora.

Todo o cenário desaparece e fico sozinho com Patrícia Reis. Entro em automático.

No livro tudo me faz lembrar a sequência da plantação francesa no Apocalipse Now. Os personagens parecem fantasmas ou zombies ou golems. A prostituta não está calibrada á medida do escritor. A jornalista, que teima em não sarar migra como um pequeno almoço de mesa em mesa como uma alma danada num banquete de bruxas. O romance tem um alvo específico, mas na sua construção age como um sniper oportunista. A maravilha do mundo são as pequenas confusões, as enguias eléctricas e aleatórias da natureza humana. A abrotea e a maionese de toranja são um acto falhado relativo ao efeito madeleine de Proust, o rateiro.

Patrícia Reis dá uma risada e responde - desculpe mas o meu nome é Cirano de Bergerac.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Susan Boyle (beije-a, Mr. King)



Elegante como um peru de Natal, afrontou com bravura centenas de pessoas que começaram por se rir de forma vil e abundante. Quando daquele corpo original lhe fugiu a voz, estarreceu e comoveu . Não é que venha daqui a paz ao mundo mas é um violento pontapé nas partes dos bonitinhos deste mundo extremamente feio. Solteira, nunca beijada, sozinha em casa e desempregada com um gato. E de repente vai ao Larry King. Tenho uma dúvida, no entanto, será que ela cantará pior ou melhor depois de ser beijada? De qualquer forma espero que tenha um bom primeiro beijo uma vez que esperou tanto tempo. Ou então ser beijada pelo próprio Larry King simbolicamente. Isso seria lindo e de extremo mau gosto como todas as coisas belas.

domingo, 19 de abril de 2009

Pele de mámore


Bom dia blog.

Espreito-te mas não falo contigo vai para um ano.

Foi tudo tão rápido; o curso, os escursionistas, tão deliciosamente diferentes entre si, o Mário Cláudio, as casas de banho em mármore, o jantar, as possibilidades; depois, a realidade. Tive saudades, admito.


Farto-me de viajar e no entanto não saio do sítio.

O mesmo clima pós aquecimento global. A mesma cidade invicta, vencida. O mesmo escandaloso contraste entre o que podia ser e o que é. O mesmo desânimo nas paredes, nos bichos e nos homens. Ainda a tua agenda quotidiana, a minha urgência. Que se foda a tua agenda quotidiana. Eu vou mas é tentar salvar a pele agora que não a tenho. Eu vou mas é fazer a barba.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Parkour Fúnebre



POR ENTRE OS MÁRMORES

O portão está aberto, entra. Sobe as primeiras escadas,
Um curto lanço, dois pequenos degraus. Segue depois pelo
carreiro de terra batida, apenas alguns passos até olhares
à esquerda, caminhares por entre os mármores. Desvia-te


das flores, não pises as vassouras que as viúvas deixam de
sábado a sábado. Vira agora para a direita e olha. Vê bem o retrato
a sépia pousado ao vento, debruça-te sobre a campa, reza.
E deixa-te com as flores, o portão sempre fechado.

Biologia do Homem, Jorge Reis-Sá, ed. Quasi, 2004


Em Por Entre os Mármores Reis-Sá ensaia a primeira tentativa do que eu chamo o poema-parkour ou se preferirem o poema –orientação. Outros nomes para este poema avançado seriam por exemplo Parkour Enérgico do Cangalheiro Saltitante ou ainda Parkour de Finados. Em poucas palavras, o exercício físico mistura-se com um revivalismo fúnebre. No próximo post debruçar-me-ei sobre o enigmático poema Dharma & Greg.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Avariação a Jorge-Reis-Sá


PELA MANHÃ O PÃO

Pela manhã o pão ou as bolachas com o leite
fundas na chávena. Tu e o jornal no
alçado, um trago de sumo sempre que
te via os passos, como se corresse, te seguisse.

O jornal ainda está na pasta como o deixaste
uma última vez, já os óculos o acompanham.

Mas o pão ainda se encontra à entrada da boca.

Biologia do Homem, Jorge-Reis-Sá, ed. Quasi, 2004


PELA MANHA O MOLETE

Pela manha o molete ou as cookies com o bagaço
sopas na xícara. Tu e o papagaio
á tiracolo, um sorver da zurrapa sempre que
te via a púbis, como se corresse, tece-me os guizos.

O papagaio ainda está empastado como o deixaste
uma penúltima vez, já as lunetas vão atrás dele.

Mas o molete ainda se encontra à entrada da boca
(e assim não tenho sítio para meter isto!)

Biologia do Cro-Magnon, Alien Taco, 2009

Na senda dos aprendizes do Renascimento ousei imitar um poeta Jorge –Reis Sá, aproveitando a maneira subtil como ele carameliza as palavras para redigir uma variação bruta e simplista que representa apenas o os meus sentimentos pueris e as idiossincrasias do meu humilde e profano dia-a-dia .Comecei a ler a Biologia do Homem e logo aos primeiros poemas me apercebi estar perante uma coisa fora do vulgar. Os poemas são tão maus que é minha convicção que este, o poeta, não reconheceria um bom poema mesmo que ele aparecesse vestido de poema com um letreiro a dizer sou um poema e a seguir o mordesse numa nalga. Estou com curiosidade de conhecer este poeta invulgarmente mau. E dar um abraço merecido porque eu tal como ele tenho instintos anti-poéticos, embora, felizmente para toda a gente, eu não escreva poesia. Todavia fiquei tocado por este livro porque em termos técnicos e viscerais é do pior que tenho lido. O poema Pela Manha o Molete é o corolário dessa experiência poético tenebrosa proporcionada pelo poeta Jorge Reis-Sá.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Se estiverem por aí


Escrevi e interpreto o espectáculo que terá a sua estreia amanhã dia 27 de Março - Dia Mundial do Teatro.
Muito do que pude fruir no atelier de escrita dos Sentidos, vem desaguar a este projecto.
Se estiverem por aí, se acharem que vale a pena, venham até á Póvoa de Varzim, eu estarei por aqui para vos dar a beber este momento.

sexta-feira, 20 de março de 2009

segunda-feira, 16 de março de 2009

Nick Hick



Swamp People

For those who dwell in the swamp
There will be nothing but wheels
Wheels of shitty misfortune and flesh eating lotus
Tiny figures in the fast track
Lost soldiers turning their tongs
Sober garments stained by hunger.

Nicholas Hick

Nicholas Hick – Nasceu na Tasmânia em 1961. Cruzei-me com ele no sétimo encontro dos Criadores Invisíveis realizado em Torresmos de Latrão. Este poema pertence a um dos seus primeiros livros: Dundee Dandy. O mote de Nick Hick é “a existência é o que é, embora não exista.”

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Lago de canja selvagem



Ingredientes

Uma floresta com patos e gansos e lebres
Um pequeno lago sem peixes
Massinha de canja
Ervas aromáticas
Tom Jones ou Motorhead

Derrubam-se as árvores e colocam-se em gigantescas fogueiras para aquecerem caçoilas de cobre. Matam-se todos os patos e gansos e lebres da floresta. Tira-se toda a água do lago e distribui-se pelos cozedouros. Os animais esfolados e depenados põem-se a ferver para soltarem a sua gordurinha. Juntam-se as massinhas. Quando estiverem cozidos adicionam-se as ervas silvestres. No fim de saciados os convivas, seguir-se-á um concerto de Tom Jones ou Motorhead.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Manifesto Estúpido



1- Toda a realidade é uma construção. O real nunca se esboroa. É como uma lampreia a sugar o clítoris da vida: o minete eterno.
2- A doença da civilização é a procura dum significado total que não existe e provavelmente nunca existiu.
3- O melhor da vida é respirar. Já o pior é o seu inverso.
4- Quando um cão saliva ao ouvir uma campainha, quando o elefante toca o sino, isso quer dizer que tanto o cão como o elefante estão aptos a escrever.
5- Os papagaios não sabem o que dizem , mas não aprendem sozinhos.
6- Deixar cair as cuecas pode ser um risco: existem espécies marotas que gostam de sítios quentes e húmidos.
7- O autor deste manifesto está muito longe da realidade. Por não saber onde está remete-o a si leitor(a) para o primeiro artigo.



Nota: como tpc levarei uma receita de arroz de lampreia que está na minha família desde a Idade do Bronze.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um Mundo Catita - As minhas coisas favoritas

O sweet and pretty speaking eyes,
where Venus, love, and pleasure lies.
Petronius (roman smart fucker)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Natal? Manuel Sérgio

Porque só agora li o desafio, fui procurar um poema que decorei na escola com nove anos e do qual ainda me lembrava em parte.

Natal?


Enquanto a chuva

Escorrer da minha vidraça

E furar o telhado

Daquele farrapo de homem que além passa

Enquanto o pão

Não entrar com a Justiça

Lado a lado

Mão a mão

Nem Jesus vem

Andar pelos caminhos onde os outros vão

Um dia

Quando for Natal

(E já não for Dezembro)

E o mundo for o espaço

Onde cabe

Um só abraço

Então

Jesus virá

E será

À flor de tudo

O RedentorUniversal

(Quando o Homem quiser

Será Natal)

Manuel Sérgio