segunda-feira, 13 de abril de 2009

Avariação a Jorge-Reis-Sá


PELA MANHÃ O PÃO

Pela manhã o pão ou as bolachas com o leite
fundas na chávena. Tu e o jornal no
alçado, um trago de sumo sempre que
te via os passos, como se corresse, te seguisse.

O jornal ainda está na pasta como o deixaste
uma última vez, já os óculos o acompanham.

Mas o pão ainda se encontra à entrada da boca.

Biologia do Homem, Jorge-Reis-Sá, ed. Quasi, 2004


PELA MANHA O MOLETE

Pela manha o molete ou as cookies com o bagaço
sopas na xícara. Tu e o papagaio
á tiracolo, um sorver da zurrapa sempre que
te via a púbis, como se corresse, tece-me os guizos.

O papagaio ainda está empastado como o deixaste
uma penúltima vez, já as lunetas vão atrás dele.

Mas o molete ainda se encontra à entrada da boca
(e assim não tenho sítio para meter isto!)

Biologia do Cro-Magnon, Alien Taco, 2009

Na senda dos aprendizes do Renascimento ousei imitar um poeta Jorge –Reis Sá, aproveitando a maneira subtil como ele carameliza as palavras para redigir uma variação bruta e simplista que representa apenas o os meus sentimentos pueris e as idiossincrasias do meu humilde e profano dia-a-dia .Comecei a ler a Biologia do Homem e logo aos primeiros poemas me apercebi estar perante uma coisa fora do vulgar. Os poemas são tão maus que é minha convicção que este, o poeta, não reconheceria um bom poema mesmo que ele aparecesse vestido de poema com um letreiro a dizer sou um poema e a seguir o mordesse numa nalga. Estou com curiosidade de conhecer este poeta invulgarmente mau. E dar um abraço merecido porque eu tal como ele tenho instintos anti-poéticos, embora, felizmente para toda a gente, eu não escreva poesia. Todavia fiquei tocado por este livro porque em termos técnicos e viscerais é do pior que tenho lido. O poema Pela Manha o Molete é o corolário dessa experiência poético tenebrosa proporcionada pelo poeta Jorge Reis-Sá.

3 comentários:

redonda disse...

E eu estava a gostar do livro! Parece-me que ao contrário de alguns outros poetas, percebo o que quer dizer e gosto de algumas das imagens que evoca.
Já leste dele O Dom? Se já tiveres lido ou não tiveres lido ainda e passares por uma livraria, será que poderias dar uma vista de olhos e dizer o que achas?

Alien Taco disse...

redonda a última coisa que eu pretendia era ,de alguma forma,poluir o teu prazer e fazer com a minha palermice desfigurasse o que tu vês nesses versos.O meu problema é exatamente esse: eu não leio o dom do autor.A inépcia é provavelmente minha.Além do mais tu sabes que eu não devo ser levado a sério.Vejo-me como um folião que não deixa passar uma oportunidade para encontrar algum riso nas coisas.

redonda disse...

Precisamente por encontrares algum riso nas coisas gosto de ler o que escreves